A Rio+20 acabou. E aí? Foi bom pra você?
Me desculpem, mas um evento que visa estudar
novas formas de solucionar velhos problemas não pode ser tratado ou entendido
como uma mera enxurrada de informações, debates e fóruns. Quanta gente falando
ao mesmo tempo em lugares diferentes! Pra onde olhar? Quem ouvir? Onde estou?
Após perceber que o fluxo de pensamentos de muitas pessoas que estavam na
correria da Rio+20 chegou ao extremo da violência mental, tive a convicção de
que mega eventos não são a melhor forma de resolver mega problemas.
Seria humanamente impossível para a imprensa
cobrir todo o evento, assim como para a sociedade civil tirar proveito da maior
parte dos debates, e se instruir melhor sobre os reais problemas ambientais que
nos rodeiam. Enfim, este foi um evento que não respeitou-se, não respeitou as
complexidades e gravidade de cada problemática debatida nas reuniões. A
conferência da ONU começou e terminou sem que a maior parte dos brasileiros
tivesse entendido alguma coisa sobre o evento. Mas, independente de entendermos
ou não, verdadeiros blocos carnavalescos se manifestaram em prol da alegria,
vazia de consciência, dos visitantes da cúpula dos povos. Que beleza!
O número de assuntos tratados em tão pouco tempo
é inacreditável! Passeamos entre questões agrárias, apresentação de novas
políticas públicas de combate à miséria, demarcação de terras indígenas,
emissão global de gases poluentes, políticas de investimento em educação e
saúde, entre uma infinidade de assuntos que foram discutidos e, acredito, não
devidamente analisados. Deveríamos passar o resto do ano digerindo as falas, propostas
e projetos apresentados durante esses dias.
A pauta que a equipe do blog acompanhou mais de
perto foi a das questões indígenas, que foram fragmentadas e esvaziadas de
importância pelos chefes de estado e organizadores do evento. Enquanto
lideranças de diversas etnias preparavam um documento na Cúpula dos Povos, a
saúde indígena era discutida na Fundação Oswaldo Cruz. Bem distante não? No
segundo dia de evento a organização da Cúpula marcou, longe da tenda que
abordava a temática dos povos nativos, no mesmo horário e espaço, um debate
sobre gestão de terras indígenas e um debate sobre educação pública do
sindicato dos professores. O resultado foi um debate no mesmo espaço mesclando
os assuntos, mas que nenhum líder indígena pode assistir, a não ser os que
estavam na mesa da discussão.
Infelizmente esta conferência das Nações Unidas
não trará grandes avanços para a maioria das causas abordada nas suas plenárias.
Mas temos certeza de uma coisa, independente da falta de foco, de maus tratos
por parte da gestão do evento, do financiamento negociado e perigoso da FUNAI,
os nossos parentes indígenas se encontraram. Um indígena do extremo sul
do país pode olhar no fundo dos olhos do parente do mais alto norte desta
nação, puderam se reconhecer como irmãos. E nós do Cacique Blog temos certeza
que o encontro indígena desorganizado, na cúpula dos povos, promoveu laços
afetivos e parcerias entre lideranças, nunca antes estabelecidas. Certamente
foi um avanço motivador para todo o movimento indígena deste país.
Focamos apenas em aspectos de organização, e
propósito do evento. Mas existem questões muito sérias e desumanas que podem
ser vistas no vídeo que está neste post A FARSA DA RIO+20, no
blog Um Lugar Escuro.
Equipe Cacique Blog
Autor do texto: Diego Seguro (Kwarahy)
Katú ahy here ànáma wà!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, José! Abração.
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